Thursday, May 2, 2013

Metodologias de Pesquisa para o Desenvolvimento em Grupo: grupos focais, grupos de discussão e grupo de debate


    Neste momento estamos entrando em uma nova fase da investigação "Brasileiros em Compostela", partiremos agora para um debate em grupo que se baseia na técnica dos grupos focais e também grupos de discussão. Com o intuito de ter um maior entendimento sobre o tema, trago aqui um longo trecho de um trabalho desenvolvido pelo professor do departamento de geografia da Universidade Estadual Paulista - campus de Presidente Prudente, Turra Neto (2011), que utiliza essa metodologia em sua investigação de doutorado. 
     Segue o trecho do trabalho "Metodologia de Pesquisa para o Estudo Geográfico da Sociabilidade Juvenil":

    "Para Cruz Neto; Moreira e Sucena (2002), a técnica dos grupos focais é um importante instrumento para o futuro das Ciências Sociais. Ganhou maior evidência nos anos de 1980 e, desde então, tem conquistado cada vez mais adeptos. Seu impulso maior vem das pesquisas de mercado. Nas Ciências Sociais entrou pela porta da política, com pesquisas do perfil dos eleitores, espalhando-se posteriormente para outros setores da pesquisa social.
     Quanto aos grupos de discussão, Meinerz (2005) argumenta que, desde a década de 1960, já era uma prática consolidada nas pesquisas de mercado, constituindo-se alternativa à abstração das enquetes estatísticas de pesquisa de opinião. O que evidencia uma origem similar aos grupos focais. Nas Ciências Sociais, esta é uma prática qualitativa surgida na chamada “Escola de Qualitativismo de Madrid”.
    Os grupos focais podem ser definidos como uma técnica de pesquisa em que se reúnem pessoas para coletar dados, a partir do diálogo e do debate entre elas sobre um tema específico. O objetivo também é produzir uma “fala em debate” (CRUZ NETO; MOREIRA e SUCENA, 2002). Não se trata de entrevista de grupo, pois objetiva a interação do grupo para gerar dados. Os/as participantes são encorajados/as a falar uns com os outros, a se perguntarem, a trocarem experiências (ROSA, 2004) e não a interagir com o pesquisador, que apenas tem papel de mediador do debate.
    A definição de grupos de discussão assemelha-se muito a esta. As distinções, se entendi bem, estão, sobretudo, no papel desempenhado pelo mediador ou preceptor do grupo. No grupo focal, não há restrição quanto ao fato do mediador conhecer as pessoas selecionadas para o grupo, desde que tenha uma reflexão sobre a influência desse conhecimento prévio nas respostas produzidas. O mediador intervém mais, recomenda-se, inclusive que ele disponha de um roteiro de debate, com certo número de questões e com tempo restrito a cada uma delas. Não há preocupação com consensos, desde que todos/as expressem sua opinião sobre a questão em pauta de forma eqüitativa. O grupo pode ser reunido mais de uma vez, em torno de questões diferentes (CRUZ, MOREIRA e SUCENA, 2002; ROSA, 2004).
    Quanto ao grupo de discussão, as restrições são maiores. O preceptor, como é nomeado a pessoa que medeia a discussão, nesse caso, não participa do debate com novas questões, não introduz novas informações, apenas trabalha sobre as informações produzidas no grupo, reformulando-as ou interpretando-as e as lançando, novamente, na roda para aprofundamento, mas apenas quando essa intervenção for necessária, para não deixar o debate cair num longo silêncio. Ao final, seria desejável que o grupo chegasse a um consenso sobre o tema, introduzido no começo. A atitude do preceptor é de escuta, sem expressar julgamentos sobre o que dizem. Entre ele e os membros do grupo, não deve haver contato prévio, bem como dos membros do grupo entre si. Em função disso, o processo de seleção dos membros deve ser realizado por uma outra pessoa. O grupo não se reúne novamente. A opção é que se organizem outros grupos em torno das mesmas temáticas (MEINERZ, 2005; IBAÑEZ, 1989; ORTÍ, 1989). Para Ibañez, o grupo deve surgir do nada e ao nada retornar. Termina quando chega ao consenso. No grupo de discussão, não interessa o grupo em si, mas sim o “agrupamento artificial”, construído com objetivos específicos e que depois se dissolve. Trata-se de uma “situação pública” de encontro entre pessoas que não se conhecem. Cada participante é representante de um determinado discurso social (MEINERZ, 2005).
    No que se refere à operacionalização do grupo, as preocupações são praticamente as mesmas: o grupo deve ser composto de quatro a doze participantes, para que todos/as possam ter oportunidade de falar e ter, no máximo, duas horas de duração. O mediador/preceptor desempenha papel fundamental na introdução e estímulo ao debate; os participantes devem ser posicionados em círculo; depois de terminada a reunião, o pesquisador responsável, que é o provável mediador, deve fornecer lanche – e, no caso dos grupos focais com mais de um encontro, dar uma pequena lembrança para cada participante –; os custos com o transporte dos integrantes do grupo correm por conta da pesquisa, etc.
    Espera-se que, nessa “fala em debate”, produzam-se informações diferentes daquelas produzidas nas entrevistas, que é mais uma fala-resposta, construída numa interação mais confessional que pública, como é o caso dos grupos.
    Também para os “grupos de debate” há uma “ficha de consentimento informado” que é preenchida pelo/a participante, autorizando o uso da sua fala na pesquisa, bem como reconhecendo que estava devidamente esclarecido quanto aos objetivos da sua participação no grupo (a ficha empregada na pesquisa pode ser encontrada no Anexo 2).
    No caso da minha pesquisa, em particular, o grupo de debate foi empregado apenas com a cultura punk e se constituiu no último passo da pesquisa com esse grupo. Foi constituído após o contato com todos/as os membros durante o campo. Portanto, já conhecia todos/as e eles/as se conheciam entre si, o que faz com que a apropriação que fiz da metodologia tenha seguido caminhos pouco ortodoxos. No dia marcado, a chuva impediu a presença de alguns, mas o debate não foi prejudicado por isso. Tive cuidado em convidar pessoas que normalmente pouco dialogavam, nos momentos de encontro do grupo, como nos shows, de forma a poder confrontar as diferentes posições em torno dos mesmos referentes culturais. Ao todo, participaram do grupo cinco pessoas, dentre as quais apenas uma garota. O tema debatido girou basicamente em torno da cena punk atual da cidade, mas os próprios participantes conduziram a outras questões, que também foram relevantes e, depois, incorporadas à pesquisa, como a questão da identidade punk, do rótulo que se cola à pessoa e da autorotulação".


     Como podemos notar, as formas de desenvolvimento dos trabalhos em grupo podem variar conforme o ponto de vista do investigador e vai se basear em com o mesmo vai querer obter seus resultados, entretanto, isso não significa que o investigador vai manipular os dados recolhidos e somente uma nova forma de organização.



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