Introdução
Estamos chegando ao fim de nossa
investigação com o tema “Brasileiros em Compostela”. Esse tema foi escolhido
entre os alunos e o professor (Carlos Ferrás Sexto) da disciplina de “Geografia
dos Sistemas Urbanos” da Faculdade de Geografia e Historia da Universidade de
Santiago de Compostela.
O objetivo dessa investigação foi
estabelecer relações entre os fluxos de estudantes brasileiros para a Universidade
Santiago de Compostela (USC), com o intuito de verificar quais os motivos de
optarem pela cidade; os diferentes tipos de captação de recursos para bolsas de
estudo no exterior; as relações dos brasileiros com a cidade do ponto de vista
cultural e econômico; e por fim, um tema que surgiu durante o desenvolvimento
do trabalho, que são as relações dos estudantes locais (galegos) com os
brasileiros durante a sua estadia na região.
Para a realização dos trabalhos,
foram utilizadas diferentes metodologias de investigação, bem como, informações
quantitativas fornecidas pela Oficina de Relações Exteriores (ORE - USC) e
informações qualitativas, através da aplicação dos questionários, que nos
ofereceu informações para o desenvolvimento da técnica do grupo focal/grupo de
discussão.
Censo “Brasileiros em
Compostela”
A ideia de realizar um censo surgiu
no sentido de identificar quantos brasileiros estão atualmente na Universidade
de Santiago de Compostela (USC) na cidade de Santiago de Compostela, entretanto,
somente foi possível identificar o número de brasileiros procedentes das
universidades brasileiras que possuem convênios bilaterais com a USC, sendo
esses, os únicos dados que a Oficina de Relações Exteriores possui.
Isso significa que em toda a USC
pode ter um número maior de brasileiros, tanto provenientes de universidades
sem convênios bilaterais, quanto brasileiros que optaram em fazer toda a
graduação na USC, além de 95 estudantes brasileiros que estão no campus de Lugo
na Faculdade Politécnica Superior, através do programa de bolsa Ciências sem
Fronteiras e outros.
Deste modo, levaremos em
consideração somente os brasileiros constatados pela ORE na cidade de Santiago
de Compostela.
Segundo a Oficina de Relações
Exteriores, no semestre atual (segundo semestre do ano 2012/2013), a USC campus
de Santiago de Compostela recebeu um total de 337 erasmus, sendo 121
brasileiros, ou seja, de todos os erasmus 36% são brasileiros.
Ainda neste sentido,
cerca de 68 brasileiros (56%) são estudantes provenientes da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), que segundo a Assessoria de Relações Externas (AREX
- UNESP) possui um convênio bilateral com a USC que esta em vigor desde o ano
de 2009 até 2015.
Isso mostra que a
USC possui importantes convênios com as universidades e instituições
brasileiras, tendo um total de 35 universidades conveniadas atualmente.
Comprovando o porquê de um número bastante elevado de brasileiros nesta
universidade. Muitas vezes esses estudantes são diretamente direcionados por processos
de bolsas que se destinam somente para a USC.
Fonte: Oficina de Relações Exteriores da Universidade
Santiago de Compostela
Org: GOMES, W. P.
Aplicação e análise dos questionários
Após essa primeira fase da
investigação, partimos para uma segunda etapa através da aplicação dos
questionários, os mesmos foram elaborados pelo nosso companheiro Martiño, no
qual foi traduzido e adaptado por mim (Washington).
Assim sendo, os
questionários foram enviados através de meios eletrônicos (facebook e e-mail), para
dois grupos de brasileiros. Sendo eles, os brasileiros que estão em Compostela,
que aqui chamaremos de grupo I (25 questionários) e para os brasileiros que já
estiveram em Compostela, que chamaremos de grupo II (26 questionários). Os dois
grupos foram escolhidos no sentido de abarcar um número de maior de pessoas,
além de coletar informações sobre os brasileiros que já passaram toda a sua
estadia em Santiago de Compostela.
Entretanto,
somente recebemos de volta para análise 11 questionários respondidos (7 do
grupo que estão em Compostela e 4 do grupo que já estiveram em Compostela),
sendo assim, os questionários respondidos do grupo de brasileiros que estão em
Compostela representam apenas 5,9% dos brasileiros em relação ao total, constituindo
uma amostra bastante pequena.
Mesmo sendo uma
amostra bastante pequena os questionários nos deram a possibilidades de
identificar alguns elementos importantes. A partir de algumas perguntas
relacionadas como, o porquê escolheu Santiago de Compostela; qual foi a
primeira impressão da cidade; gastos médios durante a estadia; se ganhou algum
tipo de bolsa; as diferenças encontradas entre as cidades brasileiras e as
galegas; Traços positivos e negativos da região galega; e as perspectivas de
futuro em relação ao um possível retorno para a região.
Deste modo, partiremos para uma
analise geral dos dois grupos de brasileiros estudados, dando um maior enfoque
para alguns trechos que foram destacados durante as análises.
A primeira impressão quando se
analisa o questionário em relação a questão porque escolheu Santiago de
Compostela, são respostas diferentes em relação as pessoas que tem bolsa de
estudos e os que não tem bolsas de estudo, sendo das 11, apenas 3 pessoas que
vieram sem auxilio de bolsas de estudo. Em geral, as pessoas que possuem bolsas
de estudos dos dois grupos, não escolheram a cidade de Santiago de Compostela e
sim, foram direcionados pelos editais das bolsas em que se inscreveram e pela
proximidade com o idioma espanhol. Já em relação as pessoas que não possuem
bolsas de estudos, surge respostas como, “Pela língua espanhola e por ter sido
muito bem recomendada [...]” e “[...] pela oportunidade de estar em uma boa
universidade europeia”, ou seja, normalmente as pessoas que possuem bolsas, já
tem com um conhecimento prévio da região, seja por recomendações seja pela
qualidade da universidade ou pela cultura da região, entretanto, vale destacar
que isso não significa que as pessoas que possuem bolsas de estudos não tenham
um conhecimento prévio da região e que sim não tem muito “poder” de escolhas
devido aos editais, muitas vezes sendo Santiago de Compostela a única opção.
Em relação às primeiras impressões
da cidade e da região as respostas são bastantes semelhantes, principalmente no
grupo I, onde aparecem que a cidade é bonita, com arquiteturas belas e
tranquila, já para o grupo II, além da beleza da cidade, surgem outras
respostas como “Eles tem uma grande valorização por sua cultura [...]” e
“organização dos pueblos ao redor da cidade”, isso pode significar que esse
grupo tenha um maior conhecido da região, já que permaneceram por mais tempo
enquanto o grupo ainda estão na metade do intercambio e normalmente deixam para
conhecer a região no final de sua estadia em Santiago de Compostela.
Do ponto de vista econômico, os dois
grupos mantém uma media de 2 mil euros durante toda a sua estadia em Santiago,
chegando a gastar entre 3 e 4 mil euros contando com suas viagens. Neste ponto
é bastante difícil de realizar uma análise visto que os gastos vão depender
bastante do número de viagens, dos valores das bolsas de estudos e
principalmente das condições socioeconômica de cada um. Porém, se trabalhamos
em cima da média de 2 mil euros gastos em Santiago e fazemos uma conta rápida
para o total de brasileiros, podemos ver que em média os brasileiros deixam
aproximadamente 234 mil euros por semestre na cidade de Compostela, sendo
esses, divididos em aluguel de pisos, alimentação, festas e etc.
Outros pontos bastante interessantes
dos questionários que podemos destacar são em relação às diferenças encontradas
das cidades galegas para as cidades brasileiras e os pontos positivos e
negativos da região galega. Em relação às diferenças positivas estão
praticamente em todas as respostas fatores como, a segurança, a limpeza, qualidade
de vida e a tranquilidade. Do ponto de
vista negativo, no grupo I houve menções sobre a grande quantidade de chuva que
não agrada muito, apenas uma mencionou que as aulas práticas de sua faculdade
não são boas, e por fim, predominaram a pouca receptividade dos estudantes galegos
com os estudantes erasmus. No grupo II, também predominou a baixa receptividade
dos galegos em relação aos pontos negativos, surgindo respostas como “De
negativo a xenofobia [...]”, “Receptividade muito diferente da brasileira, os
galegos são fechados” e “mais individualistas”.
Antes de fazer uma conclusão é
valido lembrar que o número amostral dos questionários foi bastante pequeno
para tirar uma conclusão concreta dessa última análise, porém, esses
brasileiros não tiveram uma experiência muito boa em relação a receptividade
dos galegos. Assim sendo, existe uma série de hipóteses que podem ser a
resposta para esse problema. Talvez porque estão acostumados com uma maior
aproximação dos brasileiros um com os outros e quando chegam em outro países se
depara com uma cultura diferente, mais “fria”, em que as relações interpessoais
não são como as do Brasil. Outra possibilidade é uma permanência por um período
curto de tempo, que serve como um bloqueio para uma maior aproximação dos
galegos com os erasmus em geral.
Por fim, o questionário perguntava
sobre um possível retorno a capital galega e região e neste quesito todos
pretendem voltar para a região, sendo em diversas formas, predominando, para
fazer visita como turista, viver durante mais dois anos para trabalhar e
somente uma pessoa tem a intenção de voltar para continuar os estudos (mestrado
e doutorado).
Todas essas informações importantes,
obtidas através da aplicação dos questionários, nos ajudaram a dar prosseguimento
no desenvolvimento da investigação, na qual seguimos com a realização da
técnica dos grupos focais.
Desenvolvimento da técnica do Grupo Focal
Na terceira etapa da investigação,
realizamos a técnica do grupo focal, que contou com a participação de 4
brasileiros de diferentes lugares do país, sendo eles Breno (São Paulo),
Mariana (Minas Gerais), Sheila (Ceará) e Gleci (Maranhão), respectivamente
estudantes dos cursos de direito, engenharia química, serviço social e
geografia. Em primeiro lugar gostaria de registrar o agradecimento pela
presença de todos os participantes que contribuíram de forma importantíssima
para o desenvolvimento do trabalho.
Dando continuidade, segundo Cruz
Neto, Moreira e Sucena (2002) apud
Turra Neto (2011), a técnica dos grupos focais é um importante instrumento para
o futuro das Ciências Sociais na busca de técnicas qualitativas. Essa técnica
recebeu maior evidência nos anos de 1980.
Deste modo, os
grupos focais podem ser definidos como uma técnica de pesquisa em que se reúnem
pessoas para coletar dados, a partir do diálogo e do debate entre elas sobre um
tema específico. Esse debate é levado pelos moderadores e os mesmos necessitam
ter em mãos um roteiro de discussões para inserir mais questões no decorrer da
atividade (GOMES e BARBOSA, 1999).
Assim sendo, em conjunto com o
professor Carlos Ferrás, elaboramos em classe algumas questões principais para
nortear o debate, nas quais, eu fiquei responsável pelas perspectivas de futuro
dos brasileiros com a USC, Santiago de Compostela e a Galicia em geral, além da
fazer uma valoração do ponto de vista econômico, fazendo um levantamento médio
dos gastos e como pode movimentar a economia da cidade no setor imobiliário,
comercial e de turismo, afinal todos somos turistas de longa permanecia na
cidade.
Deste mesmo modo, os companheiros
Martiño e Álvaro se responsabilizaram por outras questões como, as relações
culturais e os aspectos ligados a USC (Martiño), e as questões da receptividade
e perspectivas da cidade e região (Álvaro).
Fazendo um balanço geral dos temas
abordados pelos companheiros, ficou claro na fala de todos os brasileiros que
em relação a cidade de Santiago de Compostela, todos tiveram boas experiências e
gostaram muito da cidade predominando a definição de cidade bonita, com uma
arquitetura diferente das cidades brasileiras, tranquila, segura e pequena. Apresentando
pequenas reclamações somente em relação às condições climáticas da cidade que
consta com grandes períodos de precipitação.
Em relação à questão sobre a
receptividade dos galegos com os estudantes erasmus, somente Breno disse que não
teve problemas enquanto a isso e foi bem recebido, sendo que vive com dois galegos
e possui uma boa convivência com os mesmo, porém, na sua faculdade tem mais
contatos com outros estudantes erasmus mexicanos e não com galegos.
As outras brasileiras presentes
ressaltaram a pouca receptividade e consequentemente uma pouca comunicação com
os galegos principalmente na faculdade dentro da faculdade, marcada por um
distanciamento dos alunos galegos com os estudantes erasmus. Ainda neste
sentido Mariana fez uma fala de que no Brasil quando chega um estudante erasmus
todos buscam uma aproximação, com o intuito de uma maior integração e
disponibilização de ajuda, coisa que não ocorreu na USC. Segundo eles os
estudantes galegos que já foram erasmus são geralmente mais receptivos, por que
já conhecem as dificuldades de estar em outros países e tendem a buscar uma
maior aproximação.
Destacam uma
preocupação que a população mais velha tem em ajudar as pessoas nas ruas quando
necessitam de alguma informação, sendo muito atenciosos e educados.
Do ponto de vista cultural, vimos
que os estudantes brasileiros não possuem uma preocupação em conhecer a cultura
galega e tampouco a região de forma profunda, visitando somente algumas cidades
principais da região como La Coruña, Vigo e Lugo. Muitas vezes esse pouco
interesse está ligado a pequena aproximação com os próprios galegos, assim não
possuem uma forma de entrada para conhecer e desfrutar da cultura galega, porém,
esse desinteresse também ocorre por uma preferência em conhecer outros sitos europeus
(Paris, Roma, Madrid e etc.).
Em relação à universidade os brasileiros
destacaram uma melhor infraestrutura da USC em relação as suas universidades de
origem, com laboratórios mais equipados. Porém com poucas práticas e a não existência
de grupos de investigações voltadas para a pesquisa e poucos eventos para a
publicação de trabalhos.
Dando continuidade, chegamos nos aspectos econômicos
e vimos que em média os brasileiros gastam aproximadamente entre 400 e 500 euros
por mês somente na cidade de Santiago de Compostela e esses gastos estão
direcionados para o aluguel, alimentação (gastos com supermercados), festas,
recordações para levar ao Brasil, pequenas viagens e pouco ou quase nada se
gasta com atividades culturais como teatro e cinema.
Podemos dizer que
se tomamos esses valores como base para o total de erasmus (337), seria
aproximadamente um montante de 650 a 700 mil euros semestrais deixados na
cidade de Compostela durante a estadia dos estudantes erasmus na região.
Por fim, em
relação às perspectivas de futuros na região galega, todos os brasileiros pretendem
voltar um dia como turistas, com o intuito de mostrar para a família a cidade
que residiram durante o seu período de intercambio. Somente a Gleci pretende continuar e fazer uma pós graduação
na capital galega.
Considerações finais
Chegamos ao final de um trabalho interessante
e inovador, que pode servir futuramente como um incentivo para possíveis investigações
mais aprofundadas referentes aos fluxos migratórios de estudantes universitários
para a Europa e como isso pode movimentar a economia dos países envolvidos nos
processos.
De fato o que
podemos afirmar é que esse fluxo tende a aumentar, tanto de brasileiros para a
Europa como também europeus para o Brasil, além de muitos outros destinos que
podem ser incorporados ao longo do tempo. Vivemos em um mundo globalizado, onde
as cidades estão cada vez mais conectadas, esses fatores com a evolução dos
meios de transportes tende a aumentar ainda mais esses fluxos.
Podemos destacar
um aumento significativo desses fluxos nos últimos anos, que possivelmente é dado
pelo maior número de universidades conveniadas e também uma grande aproximação
do idioma espanhol com o português. A realização de um período de intercambio,
sem sombra de duvidas se reverte em experiências riquíssimas e amadurecimento
pessoal e profissional.
Para finalizar é valido ressaltar
que foi uma experiência interessante realizar a investigação, principalmente,
em relação a utilização da metodologia do grupo focal e que fornece uma grande
fonte de dados muito mais completa do que as metodologias de entrevista e questionários.
E você o que opina sobre os temas
trabalhados nesta investigação? Porque existe este distanciamento dos estudantes
galegos com os erasmus? Como fazer para tentar uma união entre esses dois grupos?
Será que a solução tem que partir dos professores nas classes a partir de uma
apresentação dos erasmus o trabalhos em conjuntos? De fato para entendermos os motivos
deste real distanciamento seria necessário também o desenvolvimento de um “focus group” com estudantes galegos com
perguntas direcionadas a essa temática, porém, infelizmente esse segundo grupo
focal não será permitida devido a o encerramento da disciplina.
Referências
Assessoria de
Relações Exteriores (AREX) da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
disponível em: <http://www.unesp.br/arex/convenios/detalhe.php?codigo=02332010> acessado em 23/05/2013.
Convênios
internacionais com Universidades e Instituições do Brasil (USC),
disponível em: < http://www.usc.es/es/servizos/convenios/cibrasil.html>
acessado em 23/05/2013.
Oficina de Relações
Exteriores (ORE) da Universidade de Santiago de Compostela (USC).
GOMES, M. E. S.;
BARBOSA, E. F. A Técnica de Grupos
Focais para Obtenção de Dados Qualitativos. (Revista Educativa), 1999.
TURRA NETO, N. Metodologia de Pesquisa para o Estudo Geográfico
da Sociabilidade Juvenil. (Revista RAEGA), 2011.
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