Saturday, May 25, 2013

“BRASILEIROS EM COMPOSTELA: Censo; Aplicação de questionário e Grupo focal”


Introdução
            Estamos chegando ao fim de nossa investigação com o tema “Brasileiros em Compostela”. Esse tema foi escolhido entre os alunos e o professor (Carlos Ferrás Sexto) da disciplina de “Geografia dos Sistemas Urbanos” da Faculdade de Geografia e Historia da Universidade de Santiago de Compostela.
            O objetivo dessa investigação foi estabelecer relações entre os fluxos de estudantes brasileiros para a Universidade Santiago de Compostela (USC), com o intuito de verificar quais os motivos de optarem pela cidade; os diferentes tipos de captação de recursos para bolsas de estudo no exterior; as relações dos brasileiros com a cidade do ponto de vista cultural e econômico; e por fim, um tema que surgiu durante o desenvolvimento do trabalho, que são as relações dos estudantes locais (galegos) com os brasileiros durante a sua estadia na região. 
            Para a realização dos trabalhos, foram utilizadas diferentes metodologias de investigação, bem como, informações quantitativas fornecidas pela Oficina de Relações Exteriores (ORE - USC) e informações qualitativas, através da aplicação dos questionários, que nos ofereceu informações para o desenvolvimento da técnica do grupo focal/grupo de discussão.

   Censo “Brasileiros em Compostela”
            A ideia de realizar um censo surgiu no sentido de identificar quantos brasileiros estão atualmente na Universidade de Santiago de Compostela (USC) na cidade de Santiago de Compostela, entretanto, somente foi possível identificar o número de brasileiros procedentes das universidades brasileiras que possuem convênios bilaterais com a USC, sendo esses, os únicos dados que a Oficina de Relações Exteriores possui.
            Isso significa que em toda a USC pode ter um número maior de brasileiros, tanto provenientes de universidades sem convênios bilaterais, quanto brasileiros que optaram em fazer toda a graduação na USC, além de 95 estudantes brasileiros que estão no campus de Lugo na Faculdade Politécnica Superior, através do programa de bolsa Ciências sem Fronteiras e outros.   
            Deste modo, levaremos em consideração somente os brasileiros constatados pela ORE na cidade de Santiago de Compostela.
         Segundo a Oficina de Relações Exteriores, no semestre atual (segundo semestre do ano 2012/2013), a USC campus de Santiago de Compostela recebeu um total de 337 erasmus, sendo 121 brasileiros, ou seja, de todos os erasmus 36% são brasileiros.
     Ainda neste sentido, cerca de 68 brasileiros (56%) são estudantes provenientes da Universidade Estadual Paulista (UNESP), que segundo a Assessoria de Relações Externas (AREX - UNESP) possui um convênio bilateral com a USC que esta em vigor desde o ano de 2009 até 2015.
Isso mostra que a USC possui importantes convênios com as universidades e instituições brasileiras, tendo um total de 35 universidades conveniadas atualmente. Comprovando o porquê de um número bastante elevado de brasileiros nesta universidade. Muitas vezes esses estudantes são diretamente direcionados por processos de bolsas que se destinam somente para a USC.


       Fonte: Oficina de Relações Exteriores da Universidade Santiago de Compostela
       Org: GOMES, W. P.

Aplicação e análise dos questionários
            Após essa primeira fase da investigação, partimos para uma segunda etapa através da aplicação dos questionários, os mesmos foram elaborados pelo nosso companheiro Martiño, no qual foi traduzido e adaptado por mim (Washington).
Assim sendo, os questionários foram enviados através de meios eletrônicos (facebook e e-mail), para dois grupos de brasileiros. Sendo eles, os brasileiros que estão em Compostela, que aqui chamaremos de grupo I (25 questionários) e para os brasileiros que já estiveram em Compostela, que chamaremos de grupo II (26 questionários). Os dois grupos foram escolhidos no sentido de abarcar um número de maior de pessoas, além de coletar informações sobre os brasileiros que já passaram toda a sua estadia em Santiago de Compostela.
Entretanto, somente recebemos de volta para análise 11 questionários respondidos (7 do grupo que estão em Compostela e 4 do grupo que já estiveram em Compostela), sendo assim, os questionários respondidos do grupo de brasileiros que estão em Compostela representam apenas 5,9% dos brasileiros em relação ao total, constituindo uma amostra bastante pequena.
Mesmo sendo uma amostra bastante pequena os questionários nos deram a possibilidades de identificar alguns elementos importantes. A partir de algumas perguntas relacionadas como, o porquê escolheu Santiago de Compostela; qual foi a primeira impressão da cidade; gastos médios durante a estadia; se ganhou algum tipo de bolsa; as diferenças encontradas entre as cidades brasileiras e as galegas; Traços positivos e negativos da região galega; e as perspectivas de futuro em relação ao um possível retorno para a região.
            Deste modo, partiremos para uma analise geral dos dois grupos de brasileiros estudados, dando um maior enfoque para alguns trechos que foram destacados durante as análises.
            A primeira impressão quando se analisa o questionário em relação a questão porque escolheu Santiago de Compostela, são respostas diferentes em relação as pessoas que tem bolsa de estudos e os que não tem bolsas de estudo, sendo das 11, apenas 3 pessoas que vieram sem auxilio de bolsas de estudo. Em geral, as pessoas que possuem bolsas de estudos dos dois grupos, não escolheram a cidade de Santiago de Compostela e sim, foram direcionados pelos editais das bolsas em que se inscreveram e pela proximidade com o idioma espanhol. Já em relação as pessoas que não possuem bolsas de estudos, surge respostas como, “Pela língua espanhola e por ter sido muito bem recomendada [...]” e “[...] pela oportunidade de estar em uma boa universidade europeia”, ou seja, normalmente as pessoas que possuem bolsas, já tem com um conhecimento prévio da região, seja por recomendações seja pela qualidade da universidade ou pela cultura da região, entretanto, vale destacar que isso não significa que as pessoas que possuem bolsas de estudos não tenham um conhecimento prévio da região e que sim não tem muito “poder” de escolhas devido aos editais, muitas vezes sendo Santiago de Compostela a única opção.
            Em relação às primeiras impressões da cidade e da região as respostas são bastantes semelhantes, principalmente no grupo I, onde aparecem que a cidade é bonita, com arquiteturas belas e tranquila, já para o grupo II, além da beleza da cidade, surgem outras respostas como “Eles tem uma grande valorização por sua cultura [...]” e “organização dos pueblos ao redor da cidade”, isso pode significar que esse grupo tenha um maior conhecido da região, já que permaneceram por mais tempo enquanto o grupo ainda estão na metade do intercambio e normalmente deixam para conhecer a região no final de sua estadia em Santiago de Compostela.
            Do ponto de vista econômico, os dois grupos mantém uma media de 2 mil euros durante toda a sua estadia em Santiago, chegando a gastar entre 3 e 4 mil euros contando com suas viagens. Neste ponto é bastante difícil de realizar uma análise visto que os gastos vão depender bastante do número de viagens, dos valores das bolsas de estudos e principalmente das condições socioeconômica de cada um. Porém, se trabalhamos em cima da média de 2 mil euros gastos em Santiago e fazemos uma conta rápida para o total de brasileiros, podemos ver que em média os brasileiros deixam aproximadamente 234 mil euros por semestre na cidade de Compostela, sendo esses, divididos em aluguel de pisos, alimentação, festas e etc.
            Outros pontos bastante interessantes dos questionários que podemos destacar são em relação às diferenças encontradas das cidades galegas para as cidades brasileiras e os pontos positivos e negativos da região galega. Em relação às diferenças positivas estão praticamente em todas as respostas fatores como, a segurança, a limpeza, qualidade de vida e a tranquilidade.  Do ponto de vista negativo, no grupo I houve menções sobre a grande quantidade de chuva que não agrada muito, apenas uma mencionou que as aulas práticas de sua faculdade não são boas, e por fim, predominaram a pouca receptividade dos estudantes galegos com os estudantes erasmus. No grupo II, também predominou a baixa receptividade dos galegos em relação aos pontos negativos, surgindo respostas como “De negativo a xenofobia [...]”, “Receptividade muito diferente da brasileira, os galegos são fechados” e “mais individualistas”.
            Antes de fazer uma conclusão é valido lembrar que o número amostral dos questionários foi bastante pequeno para tirar uma conclusão concreta dessa última análise, porém, esses brasileiros não tiveram uma experiência muito boa em relação a receptividade dos galegos. Assim sendo, existe uma série de hipóteses que podem ser a resposta para esse problema. Talvez porque estão acostumados com uma maior aproximação dos brasileiros um com os outros e quando chegam em outro países se depara com uma cultura diferente, mais “fria”, em que as relações interpessoais não são como as do Brasil. Outra possibilidade é uma permanência por um período curto de tempo, que serve como um bloqueio para uma maior aproximação dos galegos com os erasmus em geral.
            Por fim, o questionário perguntava sobre um possível retorno a capital galega e região e neste quesito todos pretendem voltar para a região, sendo em diversas formas, predominando, para fazer visita como turista, viver durante mais dois anos para trabalhar e somente uma pessoa tem a intenção de voltar para continuar os estudos (mestrado e doutorado).
            Todas essas informações importantes, obtidas através da aplicação dos questionários, nos ajudaram a dar prosseguimento no desenvolvimento da investigação, na qual seguimos com a realização da técnica dos grupos focais.

Desenvolvimento da técnica do Grupo Focal
            Na terceira etapa da investigação, realizamos a técnica do grupo focal, que contou com a participação de 4 brasileiros de diferentes lugares do país, sendo eles Breno (São Paulo), Mariana (Minas Gerais), Sheila (Ceará) e Gleci (Maranhão), respectivamente estudantes dos cursos de direito, engenharia química, serviço social e geografia. Em primeiro lugar gostaria de registrar o agradecimento pela presença de todos os participantes que contribuíram de forma importantíssima para o desenvolvimento do trabalho.
            Dando continuidade, segundo Cruz Neto, Moreira e Sucena (2002) apud Turra Neto (2011), a técnica dos grupos focais é um importante instrumento para o futuro das Ciências Sociais na busca de técnicas qualitativas. Essa técnica recebeu maior evidência nos anos de 1980.
Deste modo, os grupos focais podem ser definidos como uma técnica de pesquisa em que se reúnem pessoas para coletar dados, a partir do diálogo e do debate entre elas sobre um tema específico. Esse debate é levado pelos moderadores e os mesmos necessitam ter em mãos um roteiro de discussões para inserir mais questões no decorrer da atividade (GOMES e BARBOSA, 1999).
            Assim sendo, em conjunto com o professor Carlos Ferrás, elaboramos em classe algumas questões principais para nortear o debate, nas quais, eu fiquei responsável pelas perspectivas de futuro dos brasileiros com a USC, Santiago de Compostela e a Galicia em geral, além da fazer uma valoração do ponto de vista econômico, fazendo um levantamento médio dos gastos e como pode movimentar a economia da cidade no setor imobiliário, comercial e de turismo, afinal todos somos turistas de longa permanecia na cidade.
            Deste mesmo modo, os companheiros Martiño e Álvaro se responsabilizaram por outras questões como, as relações culturais e os aspectos ligados a USC (Martiño), e as questões da receptividade e perspectivas da cidade e região (Álvaro).
            Fazendo um balanço geral dos temas abordados pelos companheiros, ficou claro na fala de todos os brasileiros que em relação a cidade de Santiago de Compostela, todos tiveram boas experiências e gostaram muito da cidade predominando a definição de cidade bonita, com uma arquitetura diferente das cidades brasileiras, tranquila, segura e pequena. Apresentando pequenas reclamações somente em relação às condições climáticas da cidade que consta com grandes períodos de precipitação.
            Em relação à questão sobre a receptividade dos galegos com os estudantes erasmus, somente Breno disse que não teve problemas enquanto a isso e foi bem recebido, sendo que vive com dois galegos e possui uma boa convivência com os mesmo, porém, na sua faculdade tem mais contatos com outros estudantes erasmus mexicanos e não com galegos.
            As outras brasileiras presentes ressaltaram a pouca receptividade e consequentemente uma pouca comunicação com os galegos principalmente na faculdade dentro da faculdade, marcada por um distanciamento dos alunos galegos com os estudantes erasmus. Ainda neste sentido Mariana fez uma fala de que no Brasil quando chega um estudante erasmus todos buscam uma aproximação, com o intuito de uma maior integração e disponibilização de ajuda, coisa que não ocorreu na USC. Segundo eles os estudantes galegos que já foram erasmus são geralmente mais receptivos, por que já conhecem as dificuldades de estar em outros países e tendem a buscar uma maior aproximação.
Destacam uma preocupação que a população mais velha tem em ajudar as pessoas nas ruas quando necessitam de alguma informação, sendo muito atenciosos e educados.
            Do ponto de vista cultural, vimos que os estudantes brasileiros não possuem uma preocupação em conhecer a cultura galega e tampouco a região de forma profunda, visitando somente algumas cidades principais da região como La Coruña, Vigo e Lugo. Muitas vezes esse pouco interesse está ligado a pequena aproximação com os próprios galegos, assim não possuem uma forma de entrada para conhecer e desfrutar da cultura galega, porém, esse desinteresse também ocorre por uma preferência em conhecer outros sitos europeus (Paris, Roma, Madrid e etc.).
            Em relação à universidade os brasileiros destacaram uma melhor infraestrutura da USC em relação as suas universidades de origem, com laboratórios mais equipados. Porém com poucas práticas e a não existência de grupos de investigações voltadas para a pesquisa e poucos eventos para a publicação de trabalhos.
             Dando continuidade, chegamos nos aspectos econômicos e vimos que em média os brasileiros gastam aproximadamente entre 400 e 500 euros por mês somente na cidade de Santiago de Compostela e esses gastos estão direcionados para o aluguel, alimentação (gastos com supermercados), festas, recordações para levar ao Brasil, pequenas viagens e pouco ou quase nada se gasta com atividades culturais como teatro e cinema.
Podemos dizer que se tomamos esses valores como base para o total de erasmus (337), seria aproximadamente um montante de 650 a 700 mil euros semestrais deixados na cidade de Compostela durante a estadia dos estudantes erasmus na região.
Por fim, em relação às perspectivas de futuros na região galega, todos os brasileiros pretendem voltar um dia como turistas, com o intuito de mostrar para a família a cidade que residiram durante o seu período de intercambio. Somente a Gleci   pretende continuar e fazer uma pós graduação na capital galega.  

Considerações finais
            Chegamos ao final de um trabalho interessante e inovador, que pode servir futuramente como um incentivo para possíveis investigações mais aprofundadas referentes aos fluxos migratórios de estudantes universitários para a Europa e como isso pode movimentar a economia dos países envolvidos nos processos.
De fato o que podemos afirmar é que esse fluxo tende a aumentar, tanto de brasileiros para a Europa como também europeus para o Brasil, além de muitos outros destinos que podem ser incorporados ao longo do tempo. Vivemos em um mundo globalizado, onde as cidades estão cada vez mais conectadas, esses fatores com a evolução dos meios de transportes tende a aumentar ainda mais esses fluxos.
Podemos destacar um aumento significativo desses fluxos nos últimos anos, que possivelmente é dado pelo maior número de universidades conveniadas e também uma grande aproximação do idioma espanhol com o português. A realização de um período de intercambio, sem sombra de duvidas se reverte em experiências riquíssimas e amadurecimento pessoal e profissional.
            Para finalizar é valido ressaltar que foi uma experiência interessante realizar a investigação, principalmente, em relação a utilização da metodologia do grupo focal e que fornece uma grande fonte de dados muito mais completa do que as metodologias de entrevista e questionários.    
            E você o que opina sobre os temas trabalhados nesta investigação? Porque existe este distanciamento dos estudantes galegos com os erasmus? Como fazer para tentar uma união entre esses dois grupos? Será que a solução tem que partir dos professores nas classes a partir de uma apresentação dos erasmus o trabalhos em conjuntos? De fato para entendermos os motivos deste real distanciamento seria necessário também o desenvolvimento de um “focus group” com estudantes galegos com perguntas direcionadas a essa temática, porém, infelizmente esse segundo grupo focal não será permitida devido a o encerramento da disciplina.
           
Referências
Assessoria de Relações Exteriores (AREX) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), disponível em:  <http://www.unesp.br/arex/convenios/detalhe.php?codigo=02332010>  acessado em 23/05/2013.

Convênios internacionais com Universidades e Instituições do Brasil (USC), disponível em: < http://www.usc.es/es/servizos/convenios/cibrasil.html> acessado em 23/05/2013.

Oficina de Relações Exteriores (ORE) da Universidade de Santiago de Compostela (USC).

GOMES, M. E. S.; BARBOSA, E. F. A Técnica de Grupos Focais para Obtenção de Dados Qualitativos. (Revista Educativa), 1999.

TURRA NETO, N. Metodologia de Pesquisa para o Estudo Geográfico da Sociabilidade Juvenil. (Revista RAEGA), 2011.

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