Neste trabalho vamos
fazer uma análise do texto “Cidade Atlântica e Organização Territorial en
Galicia” dos professores Carlos Ferrás e Xosé M. Souto, em que trabalham a
região galega como uma grande cidade atlântica que possui um eixo urbano industrial
em seu setor ocidental e as grandes transformações que ocorreram na região galega
no período de 1960 a 2000.
Assim sendo, sabemos que do ponto de
vista de sua localização, a região galega ocupa um lugar periférico no conjunto
europeu, sendo uma região que faz frente ao atlântico e que por essas condições
permaneceu por períodos de isolamentos e com uma imagem de região atrasada e
rural.
Durante
o período de transformações (1960-2000) a Galicia superou a homogeneidade
social, o despovoamento e os processos de emigração para as áreas industriais, se
tornando uma região onde predomina a heterogeneidade social, passando por um novo
povoamento, aparição de áreas industriais, a modernização agrária, além de
melhorar a sua comunicação interna e externa, através de estradas que liga o
eixo atlântico com o restante europeu.
Muitos desses processos são frutos das
diversas formas de assentamentos que foram sendo desenvolvidos ao longo da
historia na região, através da atuação dos diferentes agentes sociais
produtores do espaço urbano. Para Corrêa (2005, p.11) “o espaço urbano é um produto social,
resultado de ações acumuladas através do tempo, engendradas por agentes que
produzem e consomem os espaços”.
Os agentes sociais agem a
partir da dinâmica de acumulação de capital e incluem práticas que levam a um
constante processo de (re)organização espacial. Esses agentes sociais que
produzem e (re)produzem o espaço urbano, segundo Corrêa (2005) são os
proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores
imobiliários, o Estado e por fim, os grupos sociais excluídos.
Segundo Ferrás Sexto e Souto
(2002), a região galega permaneceu sobre as ações de grandes empresas imobiliárias
e da construção. Além de deixarem claro que não se pode falar de um projeto de
cidade atlântica sem considerar os aspectos especulativos do valor de mercado
do solo e das construções urbanas.
Como parte desse processo tem-se nas
décadas de 60 e 70 um processo de emigração dos galegos para as cidades que possuíam
as concentrações industriais, como Madrid, Barcelona e Bilbao, porém, já nas décadas
seguintes 80 e 90 a região passa por um processo de desenvolvimento
equilibrado, onde potenciou um investimento industrializado na região que foram
se concentrando nas principais cidades do corredor atlântico ocidental. Em
conjunto com esses processos, podemos destacar também, as áreas antes rurais
periféricas que passaram por um resurgimento, sendo capazes de atrais novos
residentes ativos que através da universalização dos veículos podem circular
com mais facilidade na região e assim não precisavam viver nas cidades
industriais.
Deste modo, podemos dizer que
ocorreram muitos câmbios na região da Galicia a partir da segunda metade do
século XX, em especial, os processos de globalização, criação das redes
econômicas e técnicas da sociedade da informação que estão cada vez mais dinâmicas,
superando barreiras geográficas através do avanço das telecomunicações.
Podemos perceber que estamos avançando
para um novo período, o da globalização ou revolução das telecomunicações, em
que o professor Milton Santos denomina de Meio técnico-científico-informacional.
Deste modo, o Meio técnico-científico-informacional
é o meio geográfico atual, em que a presença da ciência, da técnica e da
informação é fundamental nos processos de remodelação do território, para o
atendimento das produções hegemônicas. Sendo uma transição da sociedade
industrial para uma sociedade informacional (SANTOS, 1997 apud MAIA 2012).
Neste sentido,
segundo Precedo Ledo e Miguel Iglesias (2007), as cidades médias galegas
podem se posicionar como cidades subglobais, com uma característica
policêntrica, mediante os processos de inovação e criatividade, para que assim,
possam conquistar uma vantagem comparativa de competitividade baseada na
qualidade de vida.
Assim sendo, Ferrás Sexto (2007),
traz para reflexão, um ideário (imaginário) de cidade como modelo
desconcentrado ou de cidade-rede global para a região galega, ou seja, uma
cidade polinuclear de âmbito eurorregional, localizada no meio ambiente
natural.
[...] uma região pós-industrial, bem comunicada com o
exterior, com maior parte da sua população trabalhando nos setores de serviços
e vivendo em uma grande área metropolitana formada no corredor Atlântico desde
de Ferrol até Porto, e, que o restante do território eurorregional seria
praticamente uma reserva ecológica, onde as famílias urbanas poderiam desfrutar
do tempo do ócio e os campesinos seriam os jardineiros da natureza e um
atrativo exótico-turistico (FERRÁS SEXTO, 2007, pg. 10).
Segundo Werthein (2000), uma região
pós-industrial refere-se a sociedade da informação, onde as transformações
técnicas, organizacionais e administrativas passam a ter como fator chave os
insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na
microeletrônica e telecomunicações. As novas tecnologias, a ênfase na
flexibilidade e o predomínio da lógica de redes, são características
fundamentais da sociedade da informação.
As distâncias deixam
de ser obstáculos e a população pode se locomover de suas casas para seus
trabalhos, lazeres e afazeres de forma muito mais rápida, sem a necessidade de
viver em um grande centro. As cidades passam a estar a cada dia mais complexas
e conectadas entre si, formando vários subsistemas urbanos que forma um grande
sistema urbano. Isso explica por que metade da população galega ainda vive nos
pequenos povoamentos e podem se deslocam para as grandes cidades da região em
curtos períodos de tempo.
Para Takahashi
(2000), a sociedade da
informação representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da
economia, sendo um fenômeno global, com elevado potencial transformador das
atividades sociais e econômicas, onde a informação, como meio de criação
de conhecimento, desempenha um papel fundamental na produção de riqueza e na
contribuição para o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos.
Entretanto, com esse avanço cada vez
mais aprimorado das tecnologias e a introdução cada vez mais frequentes de
maquinas e robôs nas empresas, tendem a aumentar a taxa de desemprego nos
setores industriais.
Com sentido de
finalizar, podemos realizar algumas reflexões em relação aos temas abarcados
por Ferrás Sexto e Souto (2002), com o intuito de estimular um possível debate.
Assim sendo. O
que falta para a região galega alcançar o status de uma região baseada na
sociedade da informação? A perda de postos de trabalho e a extinção ou
modificações de algumas profissões, fazem parte de um período de adaptação
desta nova fase de desenvolvimento? Porque somente a criação de um eixo atlântico urbano
industrial? Quais seriam as possibilidades e as impossibilidades de se criar um
novo eixo urbano de interior industrial?
Sabemos que as
cidades metropolitanas de La Coruña e Vigo, são cidades que tendem a desenvolver
e crescer mais nos próximos anos, e consequentemente vão obter mais importância
econômica para a região. Será que a região galega vai passar de um policêntrismo
urbano para um bicentrismo urbano industrial? Ou com a chegada de novas tecnologias,
como os trens rápidos esse policêntrismo tende a reforçar?
Assim sendo, tem
que se implantarem novas políticas que visem a desconcentração populacional,
nas quais ofereçam vantagens para a população galega permanecer nas áreas periurbanas
ou rurais da região, sem a necessidade de viver em um grande centro. Até mesmo
porque temos que levar em consideração que esses grandes centros não oferecem a
mesma qualidade de vida de décadas passadas.
Isso nos remete a
uma pergunta principal: A sociedade galega quer permanecer com base no policêntrismo
e optar por uma inserção na sociedade da informação?
Referências
CORRÊA, R. L. O Espaço
Urbano. São Paulo: Ática, Brasil, 2005.
FERRÁS
SEXTO, C. “Um ideario de cidade en rede
policéntrica ubicada nun grande xardín. o caso da eurorrexíon Galicia-Norte de
Portugal”. (Revista Estudos Euro Regionais, nº1), 2007.
FERRÁS SEXTO, C.; SOUTO
GONZÁLES, X. M. Cidade Atlântica e
Organização Territorial en Galicia. (Revista Grial nº40), 2002.
MAIA,
Lucas. O conceito de meio
técnico-científico-informacional em Milton Santos e a não-visão da luta de
classes. (artigo), Revista Caminhos da Geografia, Vol. 13, 2012.
PRECEDO LEDO, A.; MÍGUEL
IGLESIAS, A. “Policentrismo urbano y
ajuste del sistema de ciudades en Galicia”. (Revista de Xeografia,
Territorio e Medio Ambiente, nº 7), 2007.
TAKAHASHI, T. (org.) Sociedade da Informação no Brasil Livro
Verde. (Ministério da Ciência e Tecnologia), 2000.
WERTHEIN, J. A sociedade da informação e seus desafios.
Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000.
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