Sunday, May 26, 2013

Resenha critica: “Cidade Atlântica e Organização Territorial en Galicia”: A busca pela sociedade da informação!



       Neste trabalho vamos fazer uma análise do texto “Cidade Atlântica e Organização Territorial en Galicia” dos professores Carlos Ferrás e Xosé M. Souto, em que trabalham a região galega como uma grande cidade atlântica que possui um eixo urbano industrial em seu setor ocidental e as grandes transformações que ocorreram na região galega no período de 1960 a 2000.
        Assim sendo, sabemos que do ponto de vista de sua localização, a região galega ocupa um lugar periférico no conjunto europeu, sendo uma região que faz frente ao atlântico e que por essas condições permaneceu por períodos de isolamentos e com uma imagem de região atrasada e rural.
        Durante o período de transformações (1960-2000) a Galicia superou a homogeneidade social, o despovoamento e os processos de emigração para as áreas industriais, se tornando uma região onde predomina a heterogeneidade social, passando por um novo povoamento, aparição de áreas industriais, a modernização agrária, além de melhorar a sua comunicação interna e externa, através de estradas que liga o eixo atlântico com o restante europeu.
      Muitos desses processos são frutos das diversas formas de assentamentos que foram sendo desenvolvidos ao longo da historia na região, através da atuação dos diferentes agentes sociais produtores do espaço urbano. Para Corrêa (2005, p.11) “o espaço urbano é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, engendradas por agentes que produzem e consomem os espaços”.
Os agentes sociais agem a partir da dinâmica de acumulação de capital e incluem práticas que levam a um constante processo de (re)organização espacial. Esses agentes sociais que produzem e (re)produzem o espaço urbano, segundo Corrêa (2005) são os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e por fim, os grupos sociais excluídos.
Segundo Ferrás Sexto e Souto (2002), a região galega permaneceu sobre as ações de grandes empresas imobiliárias e da construção. Além de deixarem claro que não se pode falar de um projeto de cidade atlântica sem considerar os aspectos especulativos do valor de mercado do solo e das construções urbanas.
            Como parte desse processo tem-se nas décadas de 60 e 70 um processo de emigração dos galegos para as cidades que possuíam as concentrações industriais, como Madrid, Barcelona e Bilbao, porém, já nas décadas seguintes 80 e 90 a região passa por um processo de desenvolvimento equilibrado, onde potenciou um investimento industrializado na região que foram se concentrando nas principais cidades do corredor atlântico ocidental. Em conjunto com esses processos, podemos destacar também, as áreas antes rurais periféricas que passaram por um resurgimento, sendo capazes de atrais novos residentes ativos que através da universalização dos veículos podem circular com mais facilidade na região e assim não precisavam viver nas cidades industriais.
            Deste modo, podemos dizer que ocorreram muitos câmbios na região da Galicia a partir da segunda metade do século XX, em especial, os processos de globalização, criação das redes econômicas e técnicas da sociedade da informação que estão cada vez mais dinâmicas, superando barreiras geográficas através do avanço das telecomunicações.
            Podemos perceber que estamos avançando para um novo período, o da globalização ou revolução das telecomunicações, em que o professor Milton Santos denomina de Meio técnico-científico-informacional.    
            Deste modo, o Meio técnico-científico-informacional é o meio geográfico atual, em que a presença da ciência, da técnica e da informação é fundamental nos processos de remodelação do território, para o atendimento das produções hegemônicas. Sendo uma transição da sociedade industrial para uma sociedade informacional (SANTOS, 1997 apud MAIA 2012).
             Neste sentido, segundo Precedo Ledo e Miguel Iglesias (2007), as cidades médias galegas podem se posicionar como cidades subglobais, com uma característica policêntrica, mediante os processos de inovação e criatividade, para que assim, possam conquistar uma vantagem comparativa de competitividade baseada na qualidade de vida.
         Assim sendo, Ferrás Sexto (2007), traz para reflexão, um ideário (imaginário) de cidade como modelo desconcentrado ou de cidade-rede global para a região galega, ou seja, uma cidade polinuclear de âmbito eurorregional, localizada no meio ambiente natural.

[...] uma região pós-industrial, bem comunicada com o exterior, com maior parte da sua população trabalhando nos setores de serviços e vivendo em uma grande área metropolitana formada no corredor Atlântico desde de Ferrol até Porto, e, que o restante do território eurorregional seria praticamente uma reserva ecológica, onde as famílias urbanas poderiam desfrutar do tempo do ócio e os campesinos seriam os jardineiros da natureza e um atrativo exótico-turistico (FERRÁS SEXTO, 2007, pg. 10).

Segundo Werthein (2000), uma região pós-industrial refere-se a sociedade da informação, onde as transformações técnicas, organizacionais e administrativas passam a ter como fator chave os insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações. As novas tecnologias, a ênfase na flexibilidade e o predomínio da lógica de redes, são características fundamentais da sociedade da informação.
As distâncias deixam de ser obstáculos e a população pode se locomover de suas casas para seus trabalhos, lazeres e afazeres de forma muito mais rápida, sem a necessidade de viver em um grande centro. As cidades passam a estar a cada dia mais complexas e conectadas entre si, formando vários subsistemas urbanos que forma um grande sistema urbano. Isso explica por que metade da população galega ainda vive nos pequenos povoamentos e podem se deslocam para as grandes cidades da região em curtos períodos de tempo.
Para Takahashi (2000), a sociedade da informação representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da economia, sendo um fenômeno global, com elevado potencial transformador das atividades sociais e econômicas, onde a informação, como meio de criação de conhecimento, desempenha um papel fundamental na produção de riqueza e na contribuição para o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos.
            Entretanto, com esse avanço cada vez mais aprimorado das tecnologias e a introdução cada vez mais frequentes de maquinas e robôs nas empresas, tendem a aumentar a taxa de desemprego nos setores industriais.
Com sentido de finalizar, podemos realizar algumas reflexões em relação aos temas abarcados por Ferrás Sexto e Souto (2002), com o intuito de estimular um possível debate.
Assim sendo. O que falta para a região galega alcançar o status de uma região baseada na sociedade da informação? A perda de postos de trabalho e a extinção ou modificações de algumas profissões, fazem parte de um período de adaptação desta nova fase de desenvolvimento?  Porque somente a criação de um eixo atlântico urbano industrial? Quais seriam as possibilidades e as impossibilidades de se criar um novo eixo urbano de interior industrial?
Sabemos que as cidades metropolitanas de La Coruña e Vigo, são cidades que tendem a desenvolver e crescer mais nos próximos anos, e consequentemente vão obter mais importância econômica para a região. Será que a região galega vai passar de um policêntrismo urbano para um bicentrismo urbano industrial? Ou com a chegada de novas tecnologias, como os trens rápidos esse policêntrismo tende a reforçar?
Assim sendo, tem que se implantarem novas políticas que visem a desconcentração populacional, nas quais ofereçam vantagens para a população galega permanecer nas áreas periurbanas ou rurais da região, sem a necessidade de viver em um grande centro. Até mesmo porque temos que levar em consideração que esses grandes centros não oferecem a mesma qualidade de vida de décadas passadas.
Isso nos remete a uma pergunta principal: A sociedade galega quer permanecer com base no policêntrismo e optar por uma inserção na sociedade da informação?
           
Referências
CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, Brasil, 2005.

FERRÁS SEXTO, C. “Um ideario de cidade en rede policéntrica ubicada nun grande xardín. o caso da eurorrexíon Galicia-Norte de Portugal”. (Revista Estudos Euro Regionais, nº1), 2007.

FERRÁS SEXTO, C.; SOUTO GONZÁLES, X. M. Cidade Atlântica e Organização Territorial en Galicia. (Revista Grial nº40), 2002.

MAIA, Lucas. O conceito de meio técnico-científico-informacional em Milton Santos e a não-visão da luta de classes. (artigo), Revista Caminhos da Geografia, Vol. 13, 2012.

PRECEDO LEDO, A.; MÍGUEL IGLESIAS, A. “Policentrismo urbano y ajuste del sistema de ciudades en Galicia”. (Revista de Xeografia, Territorio e Medio Ambiente, nº 7), 2007.

TAKAHASHI, T. (org.) Sociedade da Informação no Brasil Livro Verde. (Ministério da Ciência e Tecnologia), 2000.  

WERTHEIN, J. A sociedade da informação e seus desafios. Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000.

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