Esquema da Cidade-Jardim - Howard
FERRÁS SEXTO, C. “Um ideario de cidade en rede policéntrica ubicada nun
grande xardín. o caso da eurorrexíon Galicia-Norte de Portugal”. (Revista
Estudos Euro Regionais, nº1), 2007.
Este é um trabalho apresentado à disciplina Geografia dos
Sistemas Urbanos da Faculdade de Geografia da
Universidade de Santiago de Compostela
(Washington Paulo Gomes)
Neste artigo, Carlos
Ferrás, trabalha com o conceito de Cidade – Jardim, desenvolvido por Ebenezer
Howard no inicio do séc. XX, relacionando-o com a eurorregião Galicia - Norte
de Portugal. Neste sentido, o mesmo vai
trazer para reflexão um ideário (imaginário) de cidade como modelo
desconcentrado ou de cidade-rede global para a região galega, ou seja, uma
cidade polinuclear de âmbito eurorregional, localizada no meio ambiente natural,
com intuito de ser uma “cidade ecológica”.
De pronto, podemos perceber que o
imaginário de uma cidade em rede policêntrica, assim como a região Galega –
Norte de Portugal, é uma proposta um tanto quando ousada e até mesmo do ponto
de vista utópica, que se faz necessário discorrer mais sobre o assunto nesta
resenha.
Neste caso, o ideário da “Garden
City” ou Cidade – Jardim de Howard, visava a necessidade de urbanizar o campo e
ruralizar a cidade, ou seja, pretendia
harmonizar e combinar cidade e campo, eliminando os inconvenientes de
concentração urbana e de dispersão rural. Planejava um assentamento regional
rural-urbano, avançando no sentido de reforçar uma a ideia de rede urbana,
propondo um modelo de integração regional, onde a maior cidade não poderia
passar de 50 mil habitantes que se conectavam com cidades satélites (jardins) de
30 mil habitantes.
Segundo Souza
(2000, pg. 145):
“[...] Howard
tinha como foco principal de suas preocupações os problemas que vinham
crescendo em função do desenvolvimento do capitalismo na cidade: o aumento
extraordinário de população nas cidades, a espetacular especulação do solo
urbano, o adensamento das construções e a própria extensão das áreas urbanas,
problemas estes vistos mais pela ótica das ciências econômicas”.
Souza ainda
afirma que, Howard pretendia melhorar as condições de vida dos trabalhadores
através do desaparecimento das grandes cidades engendradas pela
industrialização, propondo limitação no crescimento da populacional da cidade,
com baixas densidades, controle da propriedade da terra urbana, introdução de
áreas verdes e, principalmente, integração entre campo e cidade, a qual teria as
vantagens de uma cidade associada aos benefícios do campo.
Será que a região galega-portuguesa seria
capaz de parar com o crescimento de uma de suas cidades metrópoles para manter
ou tentar introduzir o modelo de cidade-jardim?
Sabemos que segundo
Precedo Ledo (2007), as cidades de Vigo e La Coruña, aceleram o processo de
metropolização a partir de um processo inicial de concentração de crescimento
urbano a nível regional e introduziram o princípio de bicentrismo urbano na
estrutura policêntrica tradicional. Ainda neste sentido, se introduzirmos a
área metropolitana de Porto (Norte de Portugal) que hoje possui aproximadamente
1,2 milhões de habitantes e se destaca em nessa faixa atlântica ocidental,
podemos notar que são cidades que estão muito acima do ponto de vista
populacional do conceito original de Howard.
Neste caso, surge
uma nova questão. Como e porque pensar a região Galicia - Norte de Portugal
como um grande jardim?
Talvez a resposta
esta no sentido de que a região galega possui mais de 300 municípios e somente
7 ultrapassam os 60 mil habitantes que se concentram em um eixo Norte-Sul localizado
no atlântico, ou seja, todo o restante do território galego esta pouco habitado
e pode ser considerado como um grande jardim.
Com a revolução tecnológica (III
Revolução Industrial), as distâncias deixam de ser obstáculos e a população pode
se locomover de suas casas para seus trabalhos, lazeres e afazeres de forma
muito mais rápida, sem a necessidade de viver em um grande centro. Isso explica
por que metade da população galega ainda vive nos pequenos povoamentos e
somente se deslocam para as grandes cidades da região durante o dia para o
trabalho e seus afazeres.
No entanto, mesmo com esse panorama,
segundo Ferrás, na historia recente da Galícia e Norte de Portugal, houve um
despovoamento rural devido a modernização agrária o que levou muitas famílias a
se deslocarem paras as áreas urbanas.
Em um segundo
momento o autor faz uma projeção (imaginação) da eurorregião Galicia - Norte de
Portugal no futuro como:
[...] uma região pós-industrial, bem comunicada com o
exterior, com maior parte da sua população trabalhando nos setores de serviços
e vivendo em uma grande área metropolitana formada no corredor Atlântico desde
de Ferrol até Porto, e, que o restante do território eurorregional seria
praticamente uma reserva ecológica, onde as famílias urbanas poderiam desfrutar
do tempo do ócio e os campesinos seriam os jardineiros da natureza e um
atrativo exótico-turistico (FERRÁS SEXTO, 2007, pg. 10).
Neste sentido, o mesmo afirma que, deveria
aplicar novos modelos de desenvolvimento rural-urbano e modernização ecológica
que possa dar impulso a diversificação socioeconômica no campo, que respeite o
meio ambiente. Políticas que deveriam promover mais a diversificação das
atividades produtivas rurais, como artesanato, a elaboração tradicional de
produtos locais de qualidade, a agricultura ecológica e o turismo rural.
Em meio a esse imaginário surge uma
questão fundamental. Uma parte da população de Galicia – Norte de Portugal quer
permanecer no meio rural? Enquanto outra grande parte da população vive em um
corredor Atlântico metropolitano desenvolvido e urbanizado?
De fato construir políticas de planificação
do território em que leve em consideração o meio ambiente em que estamos
inseridos é de extrema importância para a manutenção da vida de toda a população
mundial, ou seja, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, torna-se
importante analisar propostas urbanísticas que buscaram um equilíbrio entre o
crescimento econômico e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem,
assim como os ideais de Ebenezer Howard para o movimento das Cidades-Jardins na
Inglaterra.
É claro que nos grandes aglomerados
de urbanização devido a um acumulo populacional de forma demasiada, são gerados
muitos impactos sociais e ambientais decorrentes deste processo de crescimento.
Problemas como a pobreza,
a falta de moradia, de coleta de lixo, de rede de água e esgoto, ruas estreitas,
poluição e falta de espaços para lazer, são constantemente encontrados nas
grandes cidades.
Diante desses fatos (problemas)
é necessário colocar definitivamente em “cheque” o modelo metropolitano
tradicional de ordenamento territorial que temos atualmente, e sim partir para estudos
que tenham como princípio uma nova organização social e espacial dentro das
cidades, assim como os estudos de Howard.
Segundo, Andrade (2003), o
pensamento de Howard se torna atual na medida em que suas preocupações de
integração entre cidade-campo, eram uma estratégia de planejamento regional
para evitar o fluxo migratório em direção às grandes cidades, entretanto, do
ponto de vista regional essas cidades menores obrigatoriamente necessitam estar
interligadas por um sistema de transporte público eficiente e rápido com as
cidades maiores, para que as pessoas possam circular de forma “livre” por toda
a região.
Referências:
ANDRADE, L. M. S. “O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação para as cidades sustentáveis”. (Revista
Arquitextos, nº 042.02), 2003.
FERRÁS SEXTO, C. “Um
ideario de cidade en rede policéntrica ubicada nun grande xardín. o caso da
eurorrexíon Galicia-Norte de Portugal”. (Revista Estudos Euro Regionais,
nº1), 2007.
SOUZA, C. F. “A Cidade-Jardim: entre o discurso e a imagem - uma reflexão sobre o urbanismo de Porto
Alegre” (Revista Anos 90, nº 14), 2000.
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