Monday, April 22, 2013

A fuga do modelo tradicional de Metrópole: em busca de um novo modelo de organização espacial para a região da Galicia - Norte de Portugal





                                               Esquema da Cidade-Jardim - Howard


FERRÁS SEXTO, C. “Um ideario de cidade en rede policéntrica ubicada nun grande xardín. o caso da eurorrexíon Galicia-Norte de Portugal”. (Revista Estudos Euro Regionais, nº1), 2007.

Este é um trabalho apresentado à disciplina Geografia dos
Sistemas Urbanos da Faculdade de Geografia da
Universidade de Santiago de Compostela
(Washington Paulo Gomes)

            Neste artigo, Carlos Ferrás, trabalha com o conceito de Cidade – Jardim, desenvolvido por Ebenezer Howard no inicio do séc. XX, relacionando-o com a eurorregião Galicia - Norte de Portugal.  Neste sentido, o mesmo vai trazer para reflexão um ideário (imaginário) de cidade como modelo desconcentrado ou de cidade-rede global para a região galega, ou seja, uma cidade polinuclear de âmbito eurorregional, localizada no meio ambiente natural, com intuito de ser uma “cidade ecológica”.
            De pronto, podemos perceber que o imaginário de uma cidade em rede policêntrica, assim como a região Galega – Norte de Portugal, é uma proposta um tanto quando ousada e até mesmo do ponto de vista utópica, que se faz necessário discorrer mais sobre o assunto nesta resenha.
            Neste caso, o ideário da “Garden City” ou Cidade – Jardim de Howard, visava a necessidade de urbanizar o campo e ruralizar a cidade, ou seja,  pretendia harmonizar e combinar cidade e campo, eliminando os inconvenientes de concentração urbana e de dispersão rural. Planejava um assentamento regional rural-urbano, avançando no sentido de reforçar uma a ideia de rede urbana, propondo um modelo de integração regional, onde a maior cidade não poderia passar de 50 mil habitantes que se conectavam com cidades satélites (jardins) de 30 mil habitantes.
Segundo Souza (2000, pg. 145):

 “[...] Howard tinha como foco principal de suas preocupações os problemas que vinham crescendo em função do desenvolvimento do capitalismo na cidade: o aumento extraordinário de população nas cidades, a espetacular especulação do solo urbano, o adensamento das construções e a própria extensão das áreas urbanas, problemas estes vistos mais pela ótica das ciências econômicas”.

Souza ainda afirma que, Howard pretendia melhorar as condições de vida dos trabalhadores através do desaparecimento das grandes cidades engendradas pela industrialização, propondo limitação no crescimento da populacional da cidade, com baixas densidades, controle da propriedade da terra urbana, introdução de áreas verdes e, principalmente, integração entre campo e cidade, a qual teria as vantagens de uma cidade associada aos benefícios do campo.
            Será que a região galega-portuguesa seria capaz de parar com o crescimento de uma de suas cidades metrópoles para manter ou tentar introduzir o modelo de cidade-jardim?
Sabemos que segundo Precedo Ledo (2007), as cidades de Vigo e La Coruña, aceleram o processo de metropolização a partir de um processo inicial de concentração de crescimento urbano a nível regional e introduziram o princípio de bicentrismo urbano na estrutura policêntrica tradicional. Ainda neste sentido, se introduzirmos a área metropolitana de Porto (Norte de Portugal) que hoje possui aproximadamente 1,2 milhões de habitantes e se destaca em nessa faixa atlântica ocidental, podemos notar que são cidades que estão muito acima do ponto de vista populacional do conceito original de Howard.
Neste caso, surge uma nova questão. Como e porque pensar a região Galicia - Norte de Portugal como um grande jardim?
Talvez a resposta esta no sentido de que a região galega possui mais de 300 municípios e somente 7 ultrapassam os 60 mil habitantes que se concentram em um eixo Norte-Sul localizado no atlântico, ou seja, todo o restante do território galego esta pouco habitado e pode ser considerado como um grande jardim.
            Com a revolução tecnológica (III Revolução Industrial), as distâncias deixam de ser obstáculos e a população pode se locomover de suas casas para seus trabalhos, lazeres e afazeres de forma muito mais rápida, sem a necessidade de viver em um grande centro. Isso explica por que metade da população galega ainda vive nos pequenos povoamentos e somente se deslocam para as grandes cidades da região durante o dia para o trabalho e seus afazeres.
            No entanto, mesmo com esse panorama, segundo Ferrás, na historia recente da Galícia e Norte de Portugal, houve um despovoamento rural devido a modernização agrária o que levou muitas famílias a se deslocarem paras as áreas urbanas.
Em um segundo momento o autor faz uma projeção (imaginação) da eurorregião Galicia - Norte de Portugal no futuro como:

[...] uma região pós-industrial, bem comunicada com o exterior, com maior parte da sua população trabalhando nos setores de serviços e vivendo em uma grande área metropolitana formada no corredor Atlântico desde de Ferrol até Porto, e, que o restante do território eurorregional seria praticamente uma reserva ecológica, onde as famílias urbanas poderiam desfrutar do tempo do ócio e os campesinos seriam os jardineiros da natureza e um atrativo exótico-turistico (FERRÁS SEXTO, 2007, pg. 10).
           
                       
            Neste sentido, o mesmo afirma que, deveria aplicar novos modelos de desenvolvimento rural-urbano e modernização ecológica que possa dar impulso a diversificação socioeconômica no campo, que respeite o meio ambiente. Políticas que deveriam promover mais a diversificação das atividades produtivas rurais, como artesanato, a elaboração tradicional de produtos locais de qualidade, a agricultura ecológica e o turismo rural.
            Em meio a esse imaginário surge uma questão fundamental. Uma parte da população de Galicia – Norte de Portugal quer permanecer no meio rural? Enquanto outra grande parte da população vive em um corredor Atlântico metropolitano desenvolvido e urbanizado?  
            De fato construir políticas de planificação do território em que leve em consideração o meio ambiente em que estamos inseridos é de extrema importância para a manutenção da vida de toda a população mundial, ou seja, do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, torna-se importante analisar propostas urbanísticas que buscaram um equilíbrio entre o crescimento econômico e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem, assim como os ideais de Ebenezer Howard para o movimento das Cidades-Jardins na Inglaterra.
            É claro que nos grandes aglomerados de urbanização devido a um acumulo populacional de forma demasiada, são gerados muitos impactos sociais e ambientais decorrentes deste processo de crescimento. Problemas como a pobreza, a falta de moradia, de coleta de lixo, de rede de água e esgoto, ruas estreitas, poluição e falta de espaços para lazer, são constantemente encontrados nas grandes cidades.
Diante desses fatos (problemas) é necessário colocar definitivamente em “cheque” o modelo metropolitano tradicional de ordenamento territorial que temos atualmente, e sim partir para estudos que tenham como princípio uma nova organização social e espacial dentro das cidades, assim como os estudos de Howard.
Segundo, Andrade (2003), o pensamento de Howard se torna atual na medida em que suas preocupações de integração entre cidade-campo, eram uma estratégia de planejamento regional para evitar o fluxo migratório em direção às grandes cidades, entretanto, do ponto de vista regional essas cidades menores obrigatoriamente necessitam estar interligadas por um sistema de transporte público eficiente e rápido com as cidades maiores, para que as pessoas possam circular de forma “livre” por toda a região.

Referências:

ANDRADE, L. M. S. “O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação para as cidades sustentáveis”.  (Revista Arquitextos, nº 042.02), 2003.

FERRÁS SEXTO, C. “Um ideario de cidade en rede policéntrica ubicada nun grande xardín. o caso da eurorrexíon Galicia-Norte de Portugal”. (Revista Estudos Euro Regionais, nº1), 2007.

SOUZA, C. F. “A Cidade-Jardim: entre  o discurso e a imagem -  uma reflexão sobre o urbanismo de Porto Alegre” (Revista Anos 90, nº 14), 2000.

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